28 março 2016

What About Now, 2012

Em 2013, ano em que comemoram 30 anos de vida, os Bon Jovi lançam o seu 12º disco, “What About Now”. Pouco mais de três anos depois do lançamento do seu antecessor e menos de dois anos depois de terminada a sua mais recente digressão mundial, a banda de New Jersey regressa com um trabalho que serve de base para mais uma volta ao mundo, para encher arenas e estádios.

A banda optou por continuar com o produtor John Shanks, que os acompanha desde “Have a Nice Day”, de 2005, parceria que começa a ganhar contornos de relação, uma vez que nunca nenhum produtor tinha, até agora, trabalhado em mais de três discos com a banda. O som Pop de Shanks é, aliás, bastante notório e marcante em todo o disco, como o já tinha sido no anterior “The Circle”. No entanto, o tom carregado da produção do disco anterior foi aligeirado, o que permite aos novos temas respirarem e criarem as atmosferas das notas que os compõem.

Tal como já vem sendo hábito, o início do disco dá-se ao som do single de apresentação “Because We Can”, tema Pop Rock com coros a puxar pela grandiosidade dos estádios, com uma melodia que fica no ouvido e uma letra otimista, que apenas pode pecar por exagerar nos clichês. O riff parece feito à medida de um blockbuster da Disney ou da Pixar, no entanto, a faixa facilmente ignorada por fãs mais antigos pode facilmente fazer a banda de New Jersey ganhar uma nova geração de ouvintes que despertam para o mundo do entretenimento. Aliás, este foi sempre um ponto muito forte em que a banda apostou: ganhar as novas gerações através de sons contemporâneos, apanhando adolescentes e adicionando-os à sua já extensa base de fãs.

“I’m With You” é um mid-tempo acústico, com melodia arrastada, em que as palavras nos remetem para temas da política atual. Esta abordagem musical já tinha sido experimentada em temas como “Two Story Town”, de “Crush”, ou “I Wanna Be Loved”, de “Have a Nice Day”, e sem dúvida que se materializa num bom álbum track, com destaque para o solo de guitarra que nos recorda o bom momento em que Richie Sambora se encontra.

Segue-se o tema título, “What About Now”, de contornos épicos e com a garra típica dos clássicos a que a banda habituou os seus fãs ao longo da sua já longa carreira. Apesar da força das palavras e do crescendo dos versos, o refrão acaba por não conseguir sobressair e elevar o tema à primeira liga de clássicos. Falta uma dose de cinismo e atrevimento à interpretação de Jon Bon Jovi. que não conseguiu reproduzir a raiva que fez dos temas de “Have a Nice Day” hinos de estádio da década de 2000.

“Pictures Of You” remete-nos para o universo dos The Killers e, apesar do piscar de olho que banda fez a este tipo de abordagem no disco anterior, com evidentes referências à Pop dos Coldplay ou U2 em temas como “Fast Cars”, não deixa de ser estranho ver uma banda que cresceu entre os KISS e os Rollling Stones assumir um som tão orgânico.

“Amen” é a balada acústica com orquestrações divinais, uma melodia singela com um refrão cantado a plenos pulmões. Não fosse o facto de, musicalmente, estar tão colada ao tema “Hallelujah”, de Leonard Cohen (interpretado frequentemente ao vivo desde 2007 pelos Bon Jovi), poderia ser um clássico.

Desde o primeiro “Baby”, cantado com um tom característico, que “That’s What the Water Made Me” consegue transportar-nos para 1988, pois poderia facilmente fazer parte do álbum “New Jersey”, com o seu ritmo rápido, forte e uma letra cheia de esperança. Este tema tem a mesma origem que “Blood on Blood” ou “Wild is the Wind”, sendo que as guitarras estridentes relembram todos os fãs dos temas mais queridos do disco anterior - “Superman Tonight” e “Love’s the Only Rule”. Em suma, um tema unânime que conquista qualquer fã e que assume o esplendor máximo na sua versão ao vivo com solos de guitarra adicionais.

“What’s Left of Me” é, provavelmente, a melhor composição Country que os Bon Jovi fizeram até hoje, com arranjos dignos de um John Mellencamp ou Keith Urban. A letra dramática remete-nos para o comum trabalhador que, depois de perder tudo, apenas tem a sua dignidade e, mesmo assim, se recusa a render. A steel guitar e o mandolin criam a atmosfera, mas é a paixão das guitarras e da interpretação vocal que nos remete para a força de temas do passado, como “Someday I’ll be Saturday Night”. Este é o tipo de temas que prende os fãs e que demonstra o maior trunfo do coletivo de New Jersey.

“Army of One” arranca com teclados sinfónicos e com um ritmo de bateria que nos poderia remeter para “Lay Your Hands On Me”. No entanto, o tom militar e as palavras de ordem recriam mais facilmente o ambiente de “Work For The Working Man”, do disco “The Circle”. A mensagem política enfatizada pelo dramatismo tem o seu pico nos dois solos de guitarra, sendo que os coros do refrão são também bastante marcantes, remetendo-nos para uma cena final de um filme épico de guerra

“Thick As Thieves” é a balada conduzida pelo piano que nos transporta para a realidade que nos tinha sido apresentada em “Amen”. A banda consegue, no entanto, criar desta vez um ambiente eclético original que cresce à medida que o tempo vai passando e que atinge os seus pontos de êxtase no solo de guitarra e nos momentos finais, onde a carga dramática da orquestração, aliadas à interpretação a duas vozes, consegue-nos transportar mais uma vez para um imaginário cinematográfico.

“Beautiful World” volta à carga no que diz respeito aos ritmos mais acelerados e, com a força do optimismo, consegue fazer-nos perceber por que esta banda continua a lançar novos discos e a encher estádios mundo fora. A temática da rotina recuperada de “Any Other Day” aliadas ao ritmo de “Story of my Life” e ao dramatismo de “Superman Tonight” fazem com que reúna os melhores elementos da época pós 2000 da banda em 3m48 que, mesmo com um solo curto, conseguem fazer brilhar os olhos de qualquer seguidor da banda.

“Room at the end of the World” é mais um tema experimental que remete para os ambientes ecléticos de faixas anteriores. É, no entanto, com este tema que nos apercebemos das influências de “Brokenpromisedland”, do disco anterior, neste tipo de ambiente. No entanto, ao contrário do tema referido, a forma mais polida, sem recorrer a uma produção tão elaborada, consegue fazer sobressair a melodia que, mesmo sendo orgânica, consegue atingir o efeito pretendido. Mais um tema que poderia ser facilmente encaixado na banda sonora de um filme.

O disco termina com “The Fighter”, tema folk/country que faz parte da banda sonora do filme “Stand Up Guys”, juntamente com as faixas bónus “Old Habits Die Hard” e “Not Running Anymore”, os quais confirmam a veia de cantautor de Jon Bon Jovi que com eles se quer distinguir, à semelhança dos seus heróis Bob Dylan ou Bruce Springsteen, no campo da composição Folk.

“With These Two Hands” é mais uma faixa bónus de guitarras estridentes a um ritmo elevado, conduzido por um sintetizador que nos poderia fazer pensar que Will I Am tinha participado na produção. Tal como “Unbreakable”, do disco de 2005, este tema facilmente poderia ter tido um papel mais relevante no disco. No entanto, a sua aproximação a “Beautiful World” pode tê-lo condenado a um lugar de menor destaque, relegando-o, provavelmente, para o mesmo lugar onde tantas demos de boa qualidade ficam, sempre que os Bon Jovi lançam um disco,

Richie Sambora vê o primeiro single do seu disco de 2012, “Aftermath of the Lowdown”, lançado como faixa bónus do disco - uma exposição inesperada para o trabalho do guitarrista. Apesar de não se encaixar no contexto deste disco, é um prémio merecido para demonstrar o talento que não foi explorado de uma forma muito profunda em “What About Now”.

“Into the Echo” é a faixa bónus final que combina o eclético com as sonoridades mais Pop e Rock e que, de certa forma, conseguiria unificar conceptualmente um disco que, musicalmente, nos faz viajar por sonoridades tão distintas. Apesar das semelhanças com “Heroes”, de David Bowie, esta é uma canção fácil de assimilar e que flui muito naturalmente.

Depois de ouvirmos todos os temas, é notória a divergência de sons que é apresentada neste disco, quase como se a banda tivesse duas abordagens alternativas e quisesse seguir ambas sem apostar claramente em nenhuma: por um lado, os hinos clássicos e orelhudos que lhes permitem agradarem a fãs mais antigos e às novas gerações; por outro, uma sonoridade orgânica que demonstra a vontade em seguir as pisadas que “The Circle” já sugeria em 2009, em temas como “When We Were Beautiful”, “Live Before You Die” ou “Learn to Love”. O problema desta abordagem bicéfala é que tira ao disco uma coesão que registos como “Slippery When Wet”, “Keep the Faith”, “Have a Nice Day” ou “Lost Highway” apresentam, fazendo de “What About Now” uma colecção de canções, mais do que uma única história com princípio, meio e fim.

O sintoma não é novo e revelou-se em discos do passado como “New Jersey”, “Bounce” e “The Circle”, podendo apenas significar que a banda quer explorar novos caminhos sem comprometer o seu som característico. No entanto, fica a dúvida: não seria mais honesta uma abordagem diferente, com Jon Bon Jovi a assumir a sua faceta eclética e de cantautor num disco a solo, que o poderia projetar para um público diferente, com uma potencial aclamação da crítica (à semelhança do seu herói e conterrâneo Bruce Springsteen), guardando os temas mais orelhudos para os discos da banda, que desta forma continuaria a percorrer o globo, mas com discos que, apesar de mais espaçados, seriam também mais coesos no que diz respeito à sonoridade? A pergunta fica, mas a resposta não é clara, visto que foi esse o caminho que o mesmo Bruce Springsteen seguiu na década de 80, e que o fez quase desaparecer durante a década de 90.

A gestão da evolução é, sem dúvida, um dos aspetos mais enigmáticos da carreira de um artista e, mas é a eterna sede de conquistar mais a partir daquilo que se já se tem que proporciona novos períodos de expansão, estando a mesma apenas ao alcance daqueles que ousam tentar novos truques e que não se contentam em repetir fórmulas de sucesso que resultaram no passado. Os Bon Jovi já provaram que fazem parte desse grupo que arrisca e eles mesmos explicam porquê: "Because We Can!"

27 março 2016

Manchester, 2013

Em 2013 os Bon Jovi embarcam numa digressão que os leva à volta do mundo e os traz a Portugal pela 6ª vez. Com o disco “What About Now” acabado de lançar e uma enorme controvérsia à volta da ausência do guitarrista Richie Sambora nos concertos desde abril, a banda de New Jersey percorre a Europa com uma produção de luxo, que junta entretenimento e arte em maratonas de quase três horas cheias de hinos de estádio que, ao longo das últimas três décadas, marcaram a cultura popular do Ocidente.

Em Manchester, Inglaterra, não foi diferente, e, perante o estádio cheio do Manchester City, a banda ofereceu uma dose de entretenimento que não deixou indiferente nenhum dos presentes. O clima de festa instalou-se desde a sequência inicial, recheada de temas acelerados dos anos 80 como “You Give Love a Bad Name”, “Born to Be My Baby” ou “Raise Your Hands”, com o próprio Jon Bon Jovi a avisar que não iria perder muito tempo a falar. Depois da passagem obrigatória pelo seu último grande êxito à escala mundial, “It’s My Life”, a banda aventurou-se por dois temas do último disco: o primeiro single “Because We Can” e o tema título “What About Now”, os quais, apesar de não serem sobejamente conhecidos, encaixaram bem e não deixaram os ânimos acalmarem.

Pouco depois era o êxito dos anos 90 “Keep the Faith” que animava os presentes e, em terra de Robbie Williams, nada melhor que juntar à faixa o tema “Let Me Entertain You”, êxito que o público se encarregou de ajudar a cantar. Com o fim de “Keep the Faith”, chegaram os solos e, já sem Jon Bon Jovi em palco, foi a vez de Phil X (o músico que atualmente substitui Sambora em concerto, na guitarra), David Bryan (nas teclas) e Bobby Bandiera (guitarrista que acompanha a banda ao vivo desde 2005) demonstrarem os seus dotes com solos bem ritmados.

O regresso ao palco do vocalista dá-se com o momento mais calmo do concerto e com as baladas “(You Want To) Make a Memory” e “I’ll Be There For You” a lembrarem esta faceta da banda. Até ao fim do alinhamento principal foi a produção que mais brilhou, em jogos de luzes e projeções vídeo que tiraram partido de um palco dantesco, que recria a parte frontal de um automóvel modelo Buick, de 1959. A banda não esquece os seus já tradicionais medleys e com “Roadhouse Blues” e “Rockin’ All Over the World” complementa o ritmo contagiante de “I’ll Sleep When I’m Dead”, antes de “Bad Medicine”, que exige mais coros que nunca.

Para os dois encores, de quase uma hora, foram deixadas as mais desejadas: “In These Arms”, com o vocalista a tocar nos fãs como que a recriar o vídeo da música; “Wanted Dead or Alive”, com Jon Bon Jovi a pedir ao público para erguer os seus telemóveis e com eles fazerem aparecer uma imensidão de estrelas; “Livin’On a Prayer”, “Someday’I’ll Be Saturday Night”, “These Days ” e o mais desejado de todos os temas - “Always”, a encerrar a noite. Depois de duas horas e 50 minutos estava tudo dito e feito, e para os mais de 50 mil presentes não havia dúvidas de que tinham acabado de assistir a um dos melhores espetáculos de entretenimento atualmente em exibição. Se é verdade que para muitos fãs mais acérrimos a ausência do membro fundador, compositor e guitarrista Richie Sambora é um fator incontornável, para a maior parte dos presentes foi impossível detetar as diferenças, graças ao profissionalismo do talentoso músico de estúdio Phil X, que consegue com mestria reproduzir o som da guitarra de Sambora. Mais difícil é, sem dúvida, conseguir as harmonias vocais que caracterizam tantos clássicos da banda, mas aí entra a presença e charme que Jon Bon Jovi exerce sobre o público e que, de forma incansável, coreografa durante quase três horas.

Para o próximo dia 26 de junho, data em que os Bon Jovi irão pisar pela 3ª vez em cinco anos o palco da Bela Vista em Lisboa, espera-se assim uma noite quente, cheia de clássicos que recriam os sons mais populares das últimas três décadas: desde o Hair Metal dos anos 80, às baladas de estádio dos 90, à Pop/Rock e Country que tem caracterizado o panorama musical deste início de século. Os hinos de estádio não vão faltar e a produção promete oferecer, mesmo aos que estiverem mais distantes do palco, um espetáculo memorável. Afinal, gostando-se mais ou menos dos temas, a entrega e dedicação da banda é inegável e, como o seu vocalista diz, “Satisfaction is guaranteed”.