30 dezembro 2011

Hope Concert @ New Jersey no Natal de 2011

Na semana que antecedeu o Natal de 2011 tive a belissima oportunidade de visitar Nova York e tal como no cinema transparece, a magia transborda por toda a cidade. Todas a luzinhas brilhantes, árvores de Natal e ringues de patinagem compõe uma atmosfera perfeita para a quadra. Onde quer que se vá, existe sempre um classíco Natalício a tocar e mesmo a azáfama correria às prendas não impede a inumeras decorações que enfeitam as ruas e as caras sorridentes das pessoas que passam, de aquecerem a baixas que se sentem.

Quer em Central Park, com o seu ringue de patinagem, jardim zoológico acolhedor ou épica paisagem de natureza urbana; Times Square onde é impossível não nos depararmos com centenas, ou milhares, de locais e turistas sob a área com maior concentração de neons de todo o mundo; Rockfellar Center com a árvore de Natal mais famosa do planeta, ringue de patinagem e um imenso aglomerado de pessoas que tentam captar a magia do local; é impossível evitar a grandiosidade da cidade nesta época do ano. É como que se todo o mundo se concentrasse em apenas 2 praças e numa dúzia de ruas as quais caracterizam a zona de mid town de Nova York!

Da cidade agitada onde tudo é apressado e não há tempo a perder, apanhámos um comboio em direcção a Sul. Passámos pela cidade de Newark, muito indústiral e o seu aeroporto internacional, e à medida que avançavamos no nosso percurso cada vez apareciam mais nomes familiares nas paragens. Primeiro Perth Amboy, depois Woodbridge e apenas a alguns minutos da nossa paragem final Middletown. A viagem demorou cerca de hora e meia, mas a diferença entre a cidade grande que é Nova York e a pequena localidade de Red Bank constitui talvez uma das maiores riquezas dos Estados Unidos da América.

Red Bank é de facto uma localidade pequena, no entanto prima pelo seu charme e sofisticação. Com adornos impecáveis para a época do ano, Broad Street, a rua principal, encanta os seus visitantes com montras piturescas. Quer no Starbuks, Jack Music Shop ou num dos muitos restaurantes de classe ou acolhedores dinners, a localidade é como que retirada de um conto de fadas.

Depois de um dia de sol, o teatro centenário a que foi dado o nome do famoso músico de Jazz Count Basie iluminou-se para uma noite esgotada. Lendas locais juntaram-se a novas gerações para angariar dinheiro para uma boa causa social. A produção músical estava entregue a Bobby Bandiera, um veterano músico da Jersey Shore. Tim McLoone e os Shirleys abriram a noite com 3 temas que serviram para aquecer o público, antes dos discursos divertidos mas eloquentes do CEO do Teatro e do Mayor da localidade. Chegava então a altura do grupo principal subir ao palco, e foi o próprio Bandiera que se encarregou do microfone, quebrando de imediato o gelo. A banda contava com Hugh McDonald no baixo, um músico bastante familiar, visto que durante os últimos 15 anos tem gravado e tocado ao vivo quer com os Bon Jovi, quer com Jon Bon Jovi a solo. Foi então apresentado Layonne Holmes que interpretou dois temas, seguido de Nicole Atkins. Cada um dos artistas principais tocou entre 2 e 5 músicas, todas elas interpretadas por uma banda super profissional, conduzida por Bandiera. O cantor Bryan Fallon subiu então ao palco, contando com a preciosa ajuda de Southside Johnny, uma lenda de New Jersey. Gary Bonds levou o seu próprio baixista, que substitui Hugh durante as músicas em que a cantora esteve em palco a solo. Mais uma vez Southside Johnny juntou-se ao microfone durante a última canção em que Gary esteve em palco. O veterano tomou então as rédeas e interpretou umas das suas músicas mais míticas “This Time is for real”, seguida de um dueto muito apreciado pelo publico com o anfitrião da noite durante o tema “Broke down piece of man”.

Chegava então a altura do artista mais icónico entrar em palco e não foi dificil perceber o porquê de Jon Bon Jovi aos 49 anos ainda incendiar plateias. A audiência não se conteve e entre milhares de flashes que dispararam em direcção ao palco e a agitação que se vivia, Jon conduziu a banda, chamando para sí todas as atenções. Apesar de uma entrada calma com a interpretação de “the letter”, “Having a Party” e o clássico da sua banda “Wanted Dead or Alive” rapidamente aumentaram os decibeis e criaram um clima de festa. O músico natural de Perth Amboy teve ainda tempo para falar ao público, comentando o rumor que horas antes tinha surgido na internet e que o dava como morto. Conseguiu assim arrancar algumas gargalhadas antes de avançar com mais um êxito, desta vez “Who says you can’t go home” e é engraçado como o tema é tão acarinhado no Estado Natal do artista, quando tantas vezes mal consegue se evidenciar em concertos de estádio com milhares de pessoas noutras partes do mundo. O sentimento de pertença sublinhado no refrão do tema é sem dúvida sobre o Garden State, o qual o acolhe e entoa a plenos pulmões “It’s Alrights” sem fim. A primeira parte do concerto foi encerrada com o último êxito da banda “We weren’t born to follow”, tema que também obteve uma boa resposta dos presentes.

Para o encore foram deixadas 3 músicas. Primeiro foi Jon Bon Jovi quem brilhou numa interpretação clássica de “Blue Christmas” em conjunto com o seu herói Southside Johnny, ao que se seguiu um muito acelerado e festivo “Run Run Rudolph” com praticamente todos os músicos em palco, assim como algumas personagens da Rua Sésamo e mesmo o próprio Pai Natal, que se juntou à festa. Para tema final foi guardado o sempre harmonioso “All you need is Love”, mais uma vez com praticamente todos os artistas em palco. No entanto Jon Bon Jovi já tinha saido nesta altura, evitando assim todo o movimento que se seguiu ao fim do concerto. No entanto, ao partir deixou toda uma cidade cantando alegremente num pequeno teatro de província que resplandecia vida. O calor humano dissipou-se na noite de New Jersey, mas o espírito, esse não pode ser esquecido por quem presenciou uma noite tão calorosa.

No dia seguinte ainda tivemos tempo de visitar o novo restaurante de Jon Bon Jovi, Soul Kitchen, o qual se trata da última iniciativa da sua acção filantrópica. Neste restaurante as pessoas pagam o que acham ser justo, podendo inclusivamente pagar a sua refeição com trabalho no restaurante. Infelizmente o restaurante encontrava-se fechado pelo que foi apenas possível ver a sua frente e espreitar o seu interior. Chegava então a altura de dizer adeus à característica Broad Street, ao calmo rio navesink e ao nosso hotel muito familiar.

Em direcção à Big Apple, aproveitamos ainda para ver o espetáculo “Rock of Ages” na Broadway, o qual tem uma narrativa interessante e engraçada ao mesmo tempo, a qual percorre temas clássicos do Hair Metal dos anos 80, com temas dos White Snake, Twisted Sister, Journey e mesmo dos Bon Jovi.

Com pouco mais de 24 horas livres na cidade que nunca dorme, houve apenas tempo para voltar aos locais mais emblemáticos de Mid Town e tentar absorver todo o espírito natalício. A cidade de Nova York vale de facto a pena ser visitada nesta quadra, visto que apesar das baixas temperaturas e da falta de neve, possui um ritmo impossível de descrever em palavras, fotografias, sons ou videos. A atmosfera é simplesmente estonteante e é impossível não sentir tal magia. Apesar da decisão da viagem ter sido tomada em cima do acontecimento e de por isso não termos tido tempo para a preparar, esta vai ser sempre uma viagem que irei lembrar como aquela que me mostrou que o Natal tem o dom de reunir num perfeito equilibrio os mundos materialista e espiritual numa única quadra.

10 novembro 2011

No Inverno do Canadá, 2011

Em Fevereiro de 2011 os Bon Jovi arrancaram a digressão Norte-Americana para promover o seu Greatest Hits. A banda ainda estava a recuperar de um fim de ano estonteante com concertos na América do Sul e Austrália, sem contar com a grande quantidade de promoção que fizeram a propósito do referido disco. Depois de tê-los visto em Madrid, num desses concertos promocionais que apenas aguçaram o apetite, foi no Canadá que juntamente com alguns amigos voltei a cruzar caminho d a banda de New Jersey. Primeira paragem: Toronto!

O Air Canada centre é uma arena completamente nova e com uma acústica excelente.
A banda entrou em palco com as habituais, “Blood on Blood”, “You give Love a Bad Name”, “Born to be my Baby” e “We weren't born to Follow”, arrancando desde logo uma grande saudação do público. Jon Bon Jovi dirigiu-se então à audiência para anunciar que seria um concerto especial por se tratar do dia de São Valentim, desde logo porque o seu irmão Tony estaria durante toda a noite à procura de casais apaixonados, colocando a sua imagem nos ecrãs gigantes para que se pudessem beijar em directo. Apesar de algo populista e não muito original, o que é certo é que proporcionou várias gargalhadas ao longo da noite..

O segmento seguinte de canções foi iniciado com “In these Arms”, que teve uma boa reacção, enquanto que o tema inédito incluído no “Greatest Hits” “No apologies” provou que resulta bem ao vivo, ao contrário de “The more things change”, que se torna exagerado e no qual o vocalista enceta um interminável discurso sobre os ciclos musicais e o facto deles serem originais e não seguirem modas passageiras. Seguiram-se alguns temas mais habituais como os sempre festejados “It’s my Life” e “Runaway”. ”Pretty Woman”, normalmente tocada parcialmente, foi interpretada por completo, enquanto que o tema de Robert Palmer “Bad case of loving you” preencheu o medley no meio de “Bad Medicine”.

“Lay your hands on me” interpretado por Richie Sambora foi igualmente bem recebido, mas foi o vocalista que deixou todos sem fala quando interpretou uma versão crua e sincera do tema “My funny Valentine” de Frank Sinatra, bastante apropriada para a ocasião. As surpresas tinham apenas começado, sendo logo de seguida interpretada pela primeira vez uma versão acústica do tema “Superman Tonight” com um arranjo mais lento e intenso. Mais uma vez a banda provou que consegue despir grandes produções e mantê-las brilhantes apenas com sons acústicos. Seguiu-se uma versão imaculada de “Bed of Roses” e um coro infindável em “I'll be There for you”. A banda seguiu então com os temas habituais de fim de main set com “Who says you can’t go home”, o sempre alegre “I’ll Sleep when I’m dead” e o memorável “Keep the Faith”.

A maior surpresa da noite chegaria no início do encore: “Thank you for loving me”, a balada que não tinha sido interpretada desde 2001 tornou-se num dos momentos mais intensos da noite. À classe de “Wanted Dead or Alive” juntou-se um “Someday I’ll be Saturday Night” (com direito a coros finais) e “Just Older”, os quais não deixaram dúvidas sobre a entrega da banda. O hino de karaoke dos tempos modernos, “Livin’on a Prayer” fechou com chave de ouro uma actuação de praticamente 3 horas em que a banda surpreendeu e principalmente todos se divertiram.

No dia seguinte, a banda voltava à mesma arena e lá estávamos nós para mais um concerto. A banda surpreendeu logo no inicio com “Last man standing”, e um Jon Bon Jovi a surgir na parte da arena oposta ao palco, fazendo as delícias dos fans situados mais longe do palco. Depois de terminar o tema, o vocalista teve tempo de tocar em alguns dos fans e assim criar um clima explosivo. O concerto proceguiu com os temas habituais, surgindo “Whole lot of leavin”, em substituição de “In these Arms”, enquanto “When we were Beautiful” tomou o lugar de “The more things change”. “I’d Die for you” foi uma agradável surpresa, substituindo “Runaway” que fora tocado na noite anterior. Grande malha, apenas com detalhe menos conseguido, já que o solo de guitarra foi alterado, causando alguma estranheza aos fans mais dedicados., “Bad Medicine” contou com um pouco de “Hot legs” de Rod Steward, enquanto que no fim da música o vocalista apresentou Richie Sambora, que mais uma vez se encarregou de “Lay your hands”. Era então tempo do segmento mais calmo com as baladas “(You want to) Make a memory”, uma versão eléctrica de “Diamond ring” com um solo de guitarra brilhante , que serviu na perfeição para introduzir a balada “I’ll be There for you”. Dos temas que se seguiram até a banda deixar pela primeira vez o palco destacou-se “Have a Nice Day” que não tinha sido interpretado na noite anterior.

O encore chegou com uma muito profissional versão do épico “Dry County”, uma masterpiece à qual apenas faltou uma ponta de emoção para ser perfeita. Tal como na noite anterior a banda não queria sair de palco e decidiu tocar algumas das suas músicas predilectas: “I Love this Town” e “The more things change”. Mais uma vez a banda e o público estavam rendidos à atmosfera criada e assim nada melhor que “Livin’on a Prayer” para as despedidas dos Bon Jovi a Toronto.

Depois de alguns dias aproveitados para visitar a região, partimos para Montreal, Quebec, onde a cultura é mais Europeia e o principal idioma é o Francês.

As expectativas para os concertos de Montreal eram enormes, mas a banda optou por um longo alinhamento cheio de temas habituais, dos quais apenas se destacaram “Mamma’s got a Squeeze box” dos The Who, que apesar de divertida não impressiona. Dos 27 temas tocados, apenas “Dry County” encheu as medidas aos fans mais exigentes. Mais uma vez ouviu-se o tema “The more things Change” e o discurso infindável do vocalista, enquanto que o início de “I Love this town” teve um episódio engraçado, visto que Richie Sambora demorou algum tempo a ficar pronto, o que levou a que o tema tivesse de ser iniciado por mais 2 vezes. Foi o momento mais divertido e surpreendente da noite. No fim do concerto contávamos 27 músicas e 2h e 40m, um concerto sem dúvida longo, mas que acabou por ser previsível.

24 horas depois o cenário repetia-se no Bell Center, mas desta vez eu estava no melhor lugar dos 4 concertos em terras Canadiana: uma segunda fila, do lado de Richie Sambora, mesmo encostado à parte de fora da catwalk. A banda surpreendeu ao iniciar o concerto com “Happy Now”, que soube criar a atmosfera de ocasião especial. A voz do vocalista Jon Bon Jovi soou impecável durante todo o concerto e não tivemos de esperar muito para a segunda surpresa da noite: “Rádio saved my life tonight”, durante o qual o vocalista e fundador da banda fez um discurso emocionado sobre como foi até a um DJ de uma rádio para que tocasse a sua música, e como aumentou o volume acelerou o carro ao perceber que o seu pedido tinha sido atendido. Durante breves instantes ele foi aquele rapaz que concretizou o seu sonho e 27 anos mais tarde se mantém no topo para contar a história. Brilhante!

A banda entrou então em piloto automático até ao momento em que o guitarrista assumiu as rédeas para interpretar “Lay your hands on me”. Era notório que Richie Sambora não estava a 100% durante estes concertos, falhando algumas notas, o que é invulgar para o quem está habituado a ouvir. Jon Bon Jovi dirigiu-se ao catwalk e toda a banda interpretou mais uma surpresa para os fans: “Livin in sin”, uma interpretação sublime de uma canção apaixonante. Foi então altura de Richie Sambora se juntar ao vocalista no catwalk e juntos interpretarem mais uma versão de “I’ll be There for you”, a qual obteve o coro mais alto que alguma vez testemunhei numa arena. Os músicos estavam incrédulos, e Jon deixou escapar a exclamação "I wish the Jersey crowd was this loud". Tico Torres e David Bryan juntaram ao duo dinâmico para uma inesperada interpretação de “Blood on Blood” que soou maravilhosamente, recordando os mais dedicados dos momentos acústicos que a banda proporcionava nos anos 90. É incrível como depois de 60 concertos contínuo a ouvir temas pela primeira vez ou variações de músicas antigas. Impressionante!

O piloto automático foi mais uma vez ligado até que o tema “Love’s the only rule”, que incluiu um discurso emocional, levou os músicos a deixar o palco pela primeira vez. Esta música foi de facto inesperada e proporcionou um dos grandes momentos da noite, com Jon Bon Jovi a atravessar pelo meio do pit até à catwalk onde emergiu e pediu a todos que cantassem com ele os coros da música.

O encore iniciou-se com uma grande festa e “I’ll Sleep when I’m dead”, uma música que pessoalmente já começava a ficar cansado, mas que durante esta digressão teve uma injecção de energia que lhe deu novo fôlego, e se nos concertos anteriores já tinha sido motivo de festa, o que dizer quando desta vez incluiu um medley de 3 músicas!!! “Star me up”, “Jumpin Jack Flash” e “Dancin’ in the Streets” formaram um verdadeiro “menage a troi” na cidade de Montreal. Seguiram-se os hinos “Wanted dead or alive” e “Livin’on a Prayer” com uma participação do público soberba. Foi então tempo das despedidas, mas depois de todos à excepção de Jon já terem desaparecido, este não resistiu à energia contagiante dos gritos da audiência e chamou os companheiros para o final perfeito: “Keep the Faith”! Apesar de não ser absolutamente surpreendente ou original, não deixou de ser um momento fantástico, encerrando o espetáculo com uma energia inesgotável.

O concerto fora intenso e cheio de surpresas, apenas pecando por lhe faltar alguma espontaneidade, visto que tudo fora planeado segundo a segundo. Apesar de algo apressado, este foi provavelmente o melhor dos 4 concertos no Canadá, visto que contou com 6 surpresas, foi recheado de momentos divertidos e principalmente notava-se que a banda e o público estavam em sintonia. É quando a banda alcança este equilíbrio que conjuga o elemento surpresa à diversão que atinge os melhores resultados, e o público ao sentir essa atitude acaba não apenas por se render, mas por devolver toda a energia de volta para a banda.

A aventura tinha terminado e dos 4 concertos incluíram um especial de dia de São Valentim, dois normais com versões inesquecíveis de “Dry County”, e “Diamond Ring”, e uma festa incrível com uma audiência ensurdecedora. No fim, provei o que já tinha ouvido dizer: “Os concertos no Canadá são sempre dos melhores da América do Norte” e a verdade é que foi isso mesmo que eu testemunhei in loco não só com a banda rendida e a surpreender com temas raros, mas também com um público devoto que canta todas as músicas da banda. A qualquer fan que tenha oportunidade, o Canadá é uma excelente opção para presenciar um concerto dos Bon Jovi.